quarta-feira, 8 de agosto de 2012

"Os grandes temas não são discutidos", afirma vereador de São Paulo, Carlos Apolinario

O peemedebista Carlos Apolinario, 60, é um dos três vereadores que não tentarão se reeleger neste ano. Após três mandatos, o parlamentar se diz decepcionado. "Não sou candidato porque não me animei que as coisas possam ser diferentes aqui na próxima legislatura."
Considerado por colegas da Casa como polêmico, Apolinario pôs a Câmara em evidência neste mandato ao propor, no ano passado, a criação do Dia do Orgulho Heterossexual. O projeto acabou vetado pelo prefeito Gilberto Kassab (PSD). "O tema é polêmico, mas a finalidade foi fazer um protesto", afirma o vereador.
Lucas Lima/Folhapress
O vereador Carlos Apolinário (PMDB), 60, na Câmara Municipal de São Paulo, no centro da capital

O vereador Carlos Apolinario (PMDB), 60, na Câmara Municipal de São Paulo, no centro da capital

Folha - Por que a massa de projetos é de homenagens, dias e ruas?

Apolinario - Essa é uma das decepções que me levam a não me candidatar [à reeleição]. Colocar nome em rua é prerrogativa de vereador? É. Dar título de cidadão? É. Mas o que mexe com a vida da população? Aprovamos o que chamo de água com açúcar. E São Paulo precisa de mil novas leis? Não. Precisa de leis que mexam com a vida da cidade. Não há boa vontade para discutir esses projetos.

Mas falta só vontade?

É um mal do Legislativo. Se a população não reage, as coisas não acontecem. E a população não tinha de olhar o projeto individual, porque ele nem sempre mexe na cidade como um todo. Mas mesmo os individuais acabam sendo vetados. Algumas vezes o Executivo até tem razão. Mas muitas vezes veta porque quer ser o pai da criança.

O que o vereador ganha quando aprova uma homenagem?

Em cada mandato, um vereador pode aprovar oito. O título deveria ser dado pelos critérios que a lei estabelece. Só que, infelizmente, virou uma forma de agradar alguém.

Houve uma banalização?

Acaba havendo porque, às vezes, você quer agradar a pessoa sem que ela tenha prestado serviços para a cidade. Não é um reconhecimento da cidade, mas do autor do projeto.

Alteração de nome de rua também é para agradar?

O nome de rua é o menos problemático, porque se dá o nome de quem já faleceu. Ninguém quer morar numa rua sem nome. O título de cidadão se dá para quem está vivo e tem como eleitoralmente ajudar. Mas sabe por que se preocupam? Porque os grandes temas não são discutidos.

Por isso não vai tentar se reeleger?

Tenho uma certa decepção com esse funcionamento. Tudo que aprendi como deputado estadual e federal não consigo fazer com tenha validade dentro da Câmara.

A Câmara está muito subserviente ao Executivo?

Não é de hoje, nem desse governo. E não vejo que no ano que vem será diferente.

Isso é bom ou ruim?

É ruim porque, infelizmente, quando a população olha para nós vereadores não têm expectativa que possamos mudar a vida dela. A população olha você como aquele camarada que não serve para nada.

Não tem orgulho de ser vereador?

Do jeito que as coisas são publicadas e acontecem, você nem fala que é vereador. Sou o que menos gasta na Câmara. A população sabe disso? Se a Câmara não funcionar como um todo, individualmente você não se salva.

Alguns vereadores dizem que o senhor é polêmico.

Não sou polêmico, é que tenho a coragem de falar a realidade. Há coisas que me deixam indignado.

A Câmara precisa mudar?

A Câmara precisa acordar e discutir grandes temas. Não o projeto de cada vereador, e sim aquilo que é interessante para a cidade. Individualmente, ninguém vai resolver nada. Hoje como vereador me sinto impotente.

Acha que o seu mandato ficará marcado pela proposta de criação do Dia do Orgulho Heterossexual?

O tema é polêmico, mas a finalidade foi fazer um protesto. Aqui tem o dia do gay, o da lésbica. Poxa, tudo bem, é um direito ser gay, mas não é um privilégio. Apresentei aquilo como um protesto. Tenho amigos gays. O que não pode haver são privilégios.

Não é um pouco contraditório? Esses assuntos não acabam desfocando o objetivo da Câmara?

Não, a Câmara pode discutir tudo. O que não pode é discutir só aquilo. Nessa questão do gays, quem me fez falar tanto foi a imprensa que veio me perguntar.

Fonte: Folha de S. Paulo
http://www1.folha.uol.com.br/saopaulo/1131393-os-grandes-temas-nao-sao-discutidos-afirma-vereador-carlos-apolinario.shtml

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