Afonso Arinos de Melo Franco nasceu em Belo
Horizonte em 1905, filho de uma tradicional família de políticos, intelectuais
e diplomatas. Seu pai, Afrânio de Melo Franco, foi ministro da Viação no
governo Delfim Moreira (1918-1919), embaixador do Brasil na Liga das Nações
(1924-1926) e ministro das Relações Exteriores de Getúlio Vargas (1930-1933).
Em 1933, assumiu a direção dos jornais O Estado de
Minas e Diário da Tarde, pertencentes à cadeia dos Diários Associados, de Assis
Chateaubriand. Após o rompimento de sua família com Vargas, fundou em 1934,
junto com o irmão Virgílio, a Folha de Minas, que seria vendida um ano depois.
Passou então a trabalhar na consultoria jurídica do Banco do Brasil e em 1936
tornou-se professor de história do Brasil da Universidade do Distrito Federal.
Nos anos seguintes, enquanto o país vivia sob a ditadura do Estado Novo
(1937-1945), dedicou-se à vida acadêmica, ministrando cursos no Brasil e no
exterior.
Em 1943, participou da elaboração e foi um dos
signatários do Manifesto dos Mineiros, primeira manifestação política contra a
ditadura de Vargas. Por conta disso, foi demitido do Banco do Brasil.
Em 1945 foi um dos redatores do manifesto de
lançamento da União Democrática Nacional (UDN), partido que reunia a oposição
liberal a Vargas, fundado em abril daquele ano. Com a queda do Estado Novo em
outubro, concorreu por seu estado, em dezembro, às eleições para a Assembléia
Nacional Constituinte e obteve uma suplência, sendo que em janeiro de 1947,
assumiu uma cadeira na Câmara dos Deputados. Sucessivamente reeleito,
permaneceu na Câmara por muitos anos e exerceu enorme influência na vida
parlamentar brasileira. No início dos anos 1950, por exemplo, teve aprovado no
Congresso projeto de lei de sua autoria, que se transformaria na Lei Afonso
Arinos, tornando a discriminação racial uma contravenção penal.
Com a volta de Vargas ao poder, em janeiro de 1951,
passou mover intensa oposição ao governo. Tornou-se então líder da UDN na
Câmara e um dos integrantes da ala mais exaltada do partido, conhecida como
Banda de Música. Na crise deflagrada em 1954, que culminaria no suicídio de
Vargas, propôs a renúncia do presidente e a intervenção das Forças Armadas.
Em 1958, foi eleito para a Academia Brasileira de
Letras e para o Senado, agora representando o Distrito Federal, sempre na
legenda da UDN. Em janeiro de 1961, com a posse de Jânio Quadros na presidência
da República, foi nomeado ministro das Relações Exteriores. Desenvolveu à
frente do Itamarati uma política externa independente, marcada pelo não
alinhamento automático aos Estados Unidos, a aproximação com os países do bloco
socialista, o reconhecimento do governo de Fidel Castro em Cuba e a condenação
explícita do colonialismo na África e na Ásia. Com a renúncia de Jânio em
agosto do mesmo ano, deixou o ministério, voltou ao Senado e aí cumpriu
importante papel no encaminhamento da emenda parlamentarista, solução proposta
para contornar as resistências de setores militares à posse do vice-presidente
João Goulart. Iniciado o governo Goulart em setembro sob a vigência do sistema
parlamentarista, voltou a chefiar o Itamarati no gabinete Brochado da Rocha
(julho-setembro de 1962).
Partidário do golpe militar que depôs Goulart em
1964, foi um dos fundadores, em 1966, da Aliança Renovadora Nacional (Arena),
partido político de sustentação ao regime militar. Preferiu contudo não tentar
nova reeleição nesse ano e deixar a atividade parlamentar ao fim de seu mandato
no Senado, em janeiro de 1967. Crítico dos rumos do regime, retomou suas
atividades docentes e literárias.
Em 1986, após o término da ditadura militar, voltou
à vida política, elegendo-se senador pelo estado do Rio de Janeiro, na legenda
do Partido da Frente Liberal (PFL), para participar da Assembléia Nacional
Constituinte. Presidente da Comissão de Sistematização da Assembleia, cumpriu
importante papel na primeira fase dos trabalhos constituintes, abertos em
fevereiro de 1987. Em 1988, transferiu-se para o Partido da Social Democracia
Brasileira (PSDB).
Morreu no Rio de Janeiro em 1990, em pleno
exercício do mandato de senador.
Frases de Afonso Arinos:
“Nunca
se considerou caso político aquele caso que elementar, inicial, irrevogável e
inevitavelmente será transformado pela decisão de um outro poder.”
“Srs.
Constituintes de hoje, Srs. Congressistas de amanhã. Nosso dever é fazer
política, e fazer política é praticar e defender a liberdade, é honrar nosso
mandato, sustentar nosso trabalho, enobrecer a memória do nosso tempo.”
“O
mal do conservadorismo reacionário é não compreender que, ou aceitamos e
promovemos a evolução da democracia para novos rumos, ou a estrangulamos,
estabelecendo ditaduras de direita para sustentar privilégios incompatíveis
com a nova ordem do mundo.”
“O
poder popular representa hoje a quebra dos privilégios econômicos e sociais
das antigas classes dominantes – o que não se pode conseguir sem resistência
delas.”
“O
que é peculiar ao gênero literário das memórias é que a reconquista do
vivido não é somente um trabalho de restauração, mas sobretudo um esforço
de renovação.”
Fonte:
Centro
de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da Fundação
Getúlio Vargas (FGV/CPDOC)